27 dezembro, 2006

ortus preferível a ab ortu


Bem, esta foto é "antiga"...foi o meu começo como o de todos; mas já evoluí!


Nada mau! 13 meses depois...


Que doce é o colo de mãe!


Com direito a foto...

26 dezembro, 2006

Epimeteu

Epimeteu

gravuras rupestres


Gravuras rupestres nas margens do Baixo Minho

No final do II milénio a. C., entre 1.250 - 1 000, Bronze Final I, nota-se uma fase de transição, em que o registo arqueológico se dá conta de conjunção de tendências conservadoras e de inovação, aceitando influências vindas do exterior, de origem atlântica umas, outras de procedência continental.


O grupo de arte galaico-português, pelo sinal de estabilidade que dá nas composições geométricas e naturalistas, é atribuído a esta época, embora cobrindo etapas do Calcolítico à Proto-história.

O estudo dedicado às gravuras rupestres tem longa tradição entre nós. Desde António Carvalho da Costa, João Pinto de Morais e António de Sousa Pinto, sucederam-se no rastreio e tentativa de interpretação numerosos investigadores que deram notoriedade à grande riqueza destas manifestações simbólicas desta época, existentes no nosso país.

A natural dificuldade em descodificar este género de mensagens simbólicas, que resistiram séculos às inclemências do tempo, dispersas um pouco por todo o país, foi desafio não enjeitado por nomes ilustres, Leite de Vasconcellos, Virgílio Correia, Rui Serpa Pinto, Mendes Corrêa, Alberto Souto, Martins Sarmento, Abel Viana, Eugénio Jalhay, Amorim Girão, Francisco Manuel Alves (Abade de Baçal), Santos Júnior, sendo de lembrar, na área em estudo, mais recentemente, o esforço de inventariação e caracterização de V. O. Jorge, Martinho Baptista, E. Jorge Silva, entre outros.

Tinham-se já debruçado sobre este tema Abbé H. Breuil, Cabré, Obermaier, V. Leisner, Anati, tendo havido preocupação de cadastro e elaboração de corpus como os realizados por Breuil (Les peintures schématiques de la Péninsule Ibérique), e por Ramón Sobrino Buhigas (Corpus petroglyphorum Calaeciae).

Do Baixo Minho, na Província de Pontevedra, A. García Alén e A. Peña Santos fizeram um minucioso levantamento bibliográfico e iconográfico em que as reproduções das gravuras nos retratam, com realismo, o cenário de uma época, a vida pastoril, a guarda e reprodução animal, aleitamento das crias, a utilização de montadas, processos de caça e as armas.

Seguindo Martins Sarmento, Abel Viana, do lado português, foi quem mais detalhadamente as documentou. Estanciando em Seixas e Lanhelas pelos anos de 1922 e 1931, foi a partir daí que, ?em febris jornadas?, entusiasmado pelos incentivos dos contactos que mantinha com Florentino López Cuevillas, entre outros, que lhe fez chegar um exemplar de Os Oestrimnida e os Saefes e Ofidiolatria na Galiza, lançou numa tarefa afanosa de prospecção.

No Boletín de la Comisión de Monumentos de Orense, tomo XX, em volume de homenagem a Florentino López Cuevillas, faz um rastreio das gravuras rupestres que então conhecia e dá-nos desenho delas, permitindo-nos avaliar o número das desaparecidas e das que vão sendo abatidas ao riquíssimo património dos petróglifos de Caminha.

Parte das gravuras do grupo galaico é de arte figurativa naturalista, ilustrando a persistência de uma actividade de prestígio, a caça, e o desenvolvimento da agro-pecuária com representações que, embora sumárias e estilizadas, permitem a identificação dos animais: corças, veados, cavalos, coelhos (?) e cães.

Sem esquecer as actividades de prestígio, a caça ao veado, assinalam o desenvolvimento da agro-pecuária em cenas de pastoreio de ovinos e caprinos, animais pouco exigentes de pasto e de serra, e de gado vacum com alusão à cobrição e acompanhamento das crias. Documentam o uso de animais auxiliares, na caça e deslocação, inclusive de tiro, o cão e o cavalo. Este serve de montada, demonstrando situação de prestígio, de riqueza e domínio do espaço.

Desenhados sempre de perfil, padronizado, sem rigor anatómico, os animais são representados parados, na maior parte das vezes. Processos de tradução de movimento não estão de todo ausentes e são: o adiantamento das patas traseiras, arqueamento das dianteiras, a torção da cabeça, alongamento do colo, a posição oblíqua dos perfis. Raramente há individualização das quatro patas.

Os antropomorfos, diferentemente dos animais, aparecem exprimindo movimento, de frente, em estilização linear, com as mãos, no geral, ausentes, mesmo segurando objectos ou armas, raramente indicando os dedos.

A flora tem também lugar nas representações, expressando a atenção dada para outra fonte de subsistência, a incipiente agricultura.

Além de retrato físico, o retrato social é manifesto.

No seu conjunto ilustram uma época, o ambiente, as actividades e os recursos da agro-pecuária e da metalurgia nascente nas armas cuja importância as faz tema de representação, e até documentando processos de deslocação a cavalo e de carro.

O homem sempre em posição de prestígio, caçador com armas, pastor com cajado, montando muares e conduzindo-os pelas rédeas, numa demonstração de estabilidade social, que também é sugerida pelo número e dispersão de manifestações de arte rupestre, em especial as geométricas, circunstâncias que fazem com que à maior parte das gravuras lhes seja atribuída por alguns uma cronologia correspondente ao Bronze Médio.

Entre as gravuras coexiste, nos mesmos ambientes, a arte naturalista com a arte geométrica, abstracta.

Numa rudimentar geometria são usados pontos, as fossetes, segmentos de recta perfazendo reticulados, linhas sinuosas, círculos simples ou múltiplos e inscritos, círculos divididos em sectores, e labirintos. Estes elementos aparecem-nos em composição diversificada: em aparente desordem, ou geometricamente alinhados; isolados, ou associados a outros.

Pela simplicidade e frequência são identificáveis as covinhas, com uma dispersão larga. Isoladas ou agrupadas, sinalizando ou evidenciando lugares, rochedos, santuários, simples pontos notáveis. As interpretações criadas dificilmente creditam consensos.
Paralelos entre as figurações nas duas margens do Minho são evidentes nos motivos, na composição e no processo de gravação, quer com desenho linear quer por traço interrompido, de punções.

A serpente é um dos elementos figurativos, na Galiza e Norte de Portugal, que mais se tem prestado a considerações interpretativas.

Para algumas representações de ofídios parecem reunir-se certa plausibilidade e consenso. Acontece isso nas representações serpentiformes da Laje das Fogaças, Lanhelas, Caminha, e nas da Serra de Argallos, que apesar da sua linearidade, em geral dotadas de simulacro de cabeça em fossete, ocupam uma região onde alguns pretendem colocar a Ofiusa da literatura clássica.

É difícil saber-se o que é ou não representação de serpente. Não raro muitas gravuras rupestres tidas por serpentiformes só o são por constarem da sua composição linhas curvas, por vezes com gramática mais complexa. Peña Santos (1995) apresenta apenas a Pedra da Boullosa, em Campo Lameiro, como exemplo seguro.

Um certo preconceito de procurar obter prova material de certas passagens literárias clássicas fazem reforçar a boa vontade de construir explicações pouco convincentes. O facto de na literatura das religiões a serpente gozar de estatuto de parceiro na história da humanidade, materializando o mal e até a salvação, mensageira do mundo visível com o mundo oculto e subterrâneo, o seu carácter de animal estranho e misterioso, conduziu à sua identificação fácil com algumas representações, abonadas pela linearidade do seu aspecto físico.

Elaboradas as gravuras rupestres com instrumentos rudimentares, e, quando em suporte granítico, numa base constituída de aglomerado de minerais de diferente dureza, em rochedos expostos à degradação natural pelos fenómenos meteorológicos e catástrofes, em clima de forte pluviosidade e amplitude térmica, circunstância aceleradora da desagregação dos granitos associada à ocorrência de ventos e salinidade ambiental, só em circunstâncias especiais e por acaso se conseguirá delas um estudo completo da natureza do traço e da temática da composição.

A necessidade de comunicar, de expressar sentimentos, mensagens, assinalar acontecimentos, notar lugares desafiou o espírito inventivo do homem até à descoberta da linguagem escrita, onde desembocou uma milenar experiência de representação iconográfica. A dificuldade que sentiu em comunicar fora de presença e de recordar factos seria tão grande como é a nossa em descodificar hoje as suas mensagens, permitindo-se sobre os mesmos fenómenos múltiplas explicação.

Tem-se pretendido delimitar territórios onde a frequência de determinadas figuras é notável, a própria designação de grupo galaico de arte rupestre a isso nos remete.

A complexidade do desenho e da composição das gravuras rupestres, se dificulta a interpretação, por outro lado facilita o relacionamento da composição com paralelos, porque mais exigente de dependência e de contactos na elaboração. Permite descortinar tendências regionais a sugerir uma homogeneidade identificativa de expressão territorial, o que se verifica na temática decorativa e processos de gravação em ambas as margens do Minho.

No entanto, dá-se conta de que muitas gravuras, fora desta área, são notoriamente paralelas. Na Beira Alta, por exemplo, há gravuras que, pela concepção, gramática de composição e elementos figurativos, não destoariam se encontradas neste ambiente do grupo especificado: o labirinto de Ribafeita, S. Pedro do Sul, ao lado da via romana, as gravuras de Ferronhe, Viseu, junto da IP 5, com círculos e quadrados inscritos como as da Casa das Micas de Moledo, e os serpentiformes do Castro da Cárcoda, S. Pedro do Sul, com paralelos no Coto da Pena e em Santa Tecla.

Embora essa região Centro tenha na simbólica usado de associações específicas, v. g. , alinhamentos de pegadas múltiplas, e outras, revela evidentes pontos de contacto.

Afinal, a extensão do espaço da cultura castreja que se estende até ao Vouga, assenta num substrato comum muito anterior que a explica, manifesto, também, nestas expressões artístico culturais.

Se a simbólica de carácter abstracto nos dá indicações sobre possibilidades de unidades étnicas revendo-se em representações do mesmo padrão, as elaborações representativas de animais, atenta mesmo a dificuldade de identificação zoológica, por imperícia ou sumaridade do desenho, esclarecem-nos sobre a existência de alguns animais, das actividades do homem no seu relacionamento com eles, ou até indicações de carácter etnológico, de que é expressão de grande valor o conjunto de gravuras rupestres de Lanhelas, Caminha.

Os núcleos mais importantes de gravuras rupestres na margem esquerda, à foz do Minho, pelo número de rochas insculturadas, processo de gravação e natureza da composição, são:

a) O do Monte de Fortes, Taião, Gandra, Valença, datadas do Bronze Médio/ Final. Constam de múltiplos círculos inscritos de grande tamanho e têm paralelos do outro lado do Minho, no castro do Couço, Toutón;

b) O do Alto do Crasto de Vila Nova de Cerveira, com dois rochedos, um com decoração figurativa, outro com abstracta-geométrica;

c) As gravuras de Lanhelas/Vilar de Mouros com cervídeos, cavalos, serpentiformes e decoração abstracta, livremente disposta em superfície;


d) O da ?Casa das Micas? de Cristelo/Moledo com decoração abstracta organizada linearmente. Estas últimas, recentemente redescobertas, merecem menção especial. A razão do nome de Casinhas das Micas vem-lhe de assim serem chamadas as cabras que aí se apascentam. Perto, há vestígios de cabanas para recolha de fatos.

O Penedo das Micas I situa-se sobre o Castro de Cristelo, perto do lugar do Moinho, entre ele e a Mãe-d´água, a uma cota superior, num pequeno esporão de afloramento granítico da serra de Santo Antão, na vertente virada ao mar e sobranceiro ao oceano, com as diaclases orientadas no sentido da Ínsua.

A laje suporte é granítica, de grão grosseiro, e está ao nível do solo, bastante horizontalizada. No seu campo é decorado com composição ordenada, aproveitando para isso veios quartzíticos paralelos, mais salientes na superfície porque mais resistentes à erosão, e, entre eles, apresenta alinhamentos lineares simples de quadrados inscritos, numa barra; em noutra, paralela, de círculos concêntricos.

Conhecidas de Sarmento, o que veio a ser confirmado com a publicação de seus apontamentos pessoais em Antiqua (1999), apontamentos de Arqueologia, passou a sua existência despercebida a Abel Viana e à sua tentativa de as inventariar na totalidade.

e) O conjunto de Feixieiro de Soutelo de natureza geométrica, em composição livre, com espirais, reticulado, círculos concêntricos, é reportável à Idade do Ferro, os elementos decorativos usados estão presentes na cerâmica da fase II de A. C. F. Silva 1986.

f) As gravuras de Carreço, já mais afastadas para Sul, têm representações figurativas abstractas e zoomórficas. Na praia de Fornelos um animal é gravado a pontilhado.

Nem é raro encontrarem-se instrumentos líticos no ambiente de gravuras, como é o caso do penedo da ?Casa das Micas? e do Cruzeiro da Gelfa onde tais objectos foram encontrados, embora o relacionamento não seja necessário.

O domínio do espaço, como denota a dispersão das gravuras por tantos sítios de natureza e potencialidades tão diversificado, deu ocasião a um melhor conhecimento dos recursos de subsistência e, sobretudo, dos de prestígio, em especial da existência de minerais metalíferos. A sua exploração acelerou a diferenciação nas actividades e nas relações, fomentando o desenvolvimento e a organização do poder.

A dispersão das gravuras, na zona de beira-mar, em Carreço e Montedor, na beira-rio, com as Soutelo do Freixieiro à beira do Âncora, nas encostas de Moledo e de Vila Nova de Cerveira, e nos planaltos das serras, na Coroa da Serra de Arga, nas Cortelhas, em Azevedo, e na Armada, mostram expansão demográfica e a progressão do povoamento que nesta fase ocorre em toda a área do Baixo Minho, em zonas de diversa altitude.

Na margem direita verifica-se evolução paralela com as encostas e planaltos da serra abundantemente sinalizados, com manifestações de arte rupestre em Santa Tecla, no planalto de Santa Columba, na Serra de Argallos, igualmente em planaltos, encostas e beira-rio.

A temática, quando figurativa, referente à caça e com expressão pastoril muito expressiva, ilustra o tipo de actividades que levavam a este domínio espacial.

Rebanhos de ovelhas e cabras, manadas de vacas eram pastoreadas, exigindo largueza de pastos e justificando delimitação de áreas de utilização e influência, e estabelecimento de poder, que vai mostrar novas conformações durante a Proto-história e a Romanização.


Coordenadas de alguns dos sítios em Caminha
com gravuras rupestres

41º 45' 42'' , 08º 50' 42'' animais
41º 54' 44'' ; 08º 46' 48'' curvilíneos
41º 54' 38'' ; 08º 46' 49'' curvilíneos e fossetes
41º 54' 32'' ; 08º 46' 55'' zoomorfo e antropomorfo condutor de animal
41º 54' 01'' ; 08º 46' 51'' dois conjuntos no lajedo a sul, vistos do estradão
41º 54' 02'' ; 08º 46' 46'' no caminho medieval de "Retapam" para o moinho ("Penedo do Trinque" ou "pedra trincadeira" de A. Viana?)

A. Baptista Lopes

23 dezembro, 2006

Ab ortu


Obrigado, mamã! Quiseste-me!
Beijinhos parati!

18 dezembro, 2006

Cividade de Âncora


A Cividade de Âncora é um dos mais emblemáticos povoados castrejos do Baixo Minho. De extensão superior ao de Santa Tecla, com ares de capitalidade, tem atraído a atenção de investigadores nacionais e estrangeiros: Martins Sarmento, Christopher Hawks, Abel Viana e A. C. F. Silva. Este prof da FLUP, nas intervenções que aí realizou, esclareceu a estruturação do recinto doméstico com edificações de tipo diverso, circulares com e sem átrio, oblongas, quadrangulares de cantos arredondados, envolvendo em intimidade murada um pátio lajeado em que não falta fonte, forno e até necrópole. Da sua intervenção é a planta apresentada. Monumental povoado que num momento centralizou a importância que depois perdeu para Tude (Tuy), este povoado dos Gróvios bem merecia ser sinalizado, protegido e fruído. De muito mau gosto são as destruições e também as reconstruções ingénuas a que tem sido sujeito.
Abel Domingues.

16 dezembro, 2006

Obras de Santa Engrácia



A Matriz de Caminha e as Obras de Santa Engrácia

É Caminha sala de visita do país e por ela deambulam ao longo do ano, em especial nos dias de Verão e começo de Outono, turistas do país vizinho e não só, amantes de suas belas e paradisíacas paisagens. Tem-se alindado para merecer tão distinta deferência. Em jardins, o tapete de cuidada verdura é sublinhado por manchas de colorido vivo de flores variegadas. Agora, adornada de estátuas, alusivas ao viver e ao ambiente, de vias cuidadas, a cara lavada do seu magnífico terreiro diz bem das suas gentes, que sabem bem receber.
Das muralhas, o que resta fala de nobreza e patriotismo; tem gravado na sua velha bandeira, em letras de ouro sobre cetim rubro, o lema: ?De Patriotismo Nunca Desmentido?. Vai fazer 200 anos que o Corso, aqui afrontado, conheceu o começo da derrota, o esboroar de ambições. Nesta Terra de gente corajosa, as águias voam baixo.


Mas não há bela sem senão! A Matriz, jóia de arquitectura, mereceu em tempos restauro de que dá razão bela monografia dos Monumentos Nacionais. Caiu agora nas mãos de outros restauradores. Por quanto e para quando? Quando terminam e a deixam acolher no seu seio os que a chamam matriz? questionam-se os que têm direito a que lhes respeitem o seu lugar principal de culto, de encontro, sua matriz cultural.

Conforme está, envergonha Caminha e o país na sua sala de visitas! Assim, não! seria bom que a entaipassem com o tipo de painéis que vai sendo usual utilizarem-se para esconder as chagas das intervenções? talvez a publicitarem a ineficácia e a desprogramação das obras?à portuguesa! Obras de Santa Engrácia?!

Abel Domingues